Como funciona a terapia?
- Raphael Ferreira Santiago
- 29 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de jan.

Tentando ser breve, de acordo com o que aprendi nos estudos teóricos e na minha prática clínica em atendimentos individuais, em grupo e hospitalares, não há nada mais fundamental em um acompanhamento clínico psicoterapêutico que uma atuação, por parte do psicólogo, no sentido de criar, juntamente com quem está sendo atendido, um “tempo-espaço” de presença. Essa presença, por si só, se trata da experiência a ser vivida em plenitude ali em cada encontro terapêutico. Por meio dela, estabelecem-se as condições para que a pessoa possa dizer de si e de suas relações com o mundo. Não há nada mais importante em um acompanhamento que isso. É claro que existem teorias, estudos e até mesmo a possibilidade de utilização de técnicas, mas mesmo todos os recursos psicológicos também precisam ser colocados em uma espécie de suspensão para que o encontro e a presença tenham papel central nos atendimentos.

Digo isso porque me inspiro na abordagem fenomenológico-existencial em meu trabalho. Trata-se de uma abordagem que busca colocar em suspensão tudo aquilo que acreditamos já estar determinado e, a partir disso isso, proporcionar as condições de presença para que a própria pessoa atendida possa dizer de si e de suas relações com o mundo. Uma de nossas apostas é que, por meio dessa sustentação de um “tempo-espaço” presente, tendo a escuta como principal ferramenta de atuação clínica por parte do psicólogo, a pessoa possa ir dizendo da própria experiência com o seu viver singular, podendo criar e “descriar” noções de si e de suas relações com o mundo. Afinal, as protagonistas dos encontros psicoterapêuticos são as pessoas atendidas, pois somente elas sabem verdadeiramente de sua história, suas relações e contexto social. Ou seja, quem vive é que sabe dizer do próprio viver. Ou, se ainda não sabe, arriscamos dizer que pelo menos tem os meios para desenvolver as ferramentas para dizer da própria experiência.

E é aí que um psicólogo atua: sustentando uma qualidade de “tempo-espaço” para que, assim, possam surgir da própria pessoa e para ela mesma outras possibilidades de viver e de lidar com a existência e o sofrimento que antes não eram, às vezes, nem imagináveis. Contudo, é importante salientar que isso tudo não vem descolado da experiência material, por exemplo, das questões sociais. Pois entendemos, também, que podem existir efeitos dolorosos advindos das diversas opressões que as pessoas sofrem em sua diversidade de experiências. Ou seja, sabemos que há questões sociais que englobam diferentes grupos cujo enfrentamento não se dá em âmbito somente individual. Apesar disso, os possíveis sofrimentos e questões resultantes dessa relação com o contexto social são experienciados singularmente! Sendo assim, a sustentação pelo psicólogo desse “tempo-espaço” no encontro clínico pode ser ainda mais importante em termos terapêuticos, pois costuma revelar-se bastante acolhedora.
Para concluir, eu diria então que o acompanhamento clínico em psicologia pode ser resumido em presença e cuidado, com compromisso político e social, apostando sempre que viver não está dado. Há possibilidades.
Vamos juntos dar esse primeiro passo?